sábado, 15 de outubro de 2011

Apenas o ar é vital


A medida que o tempo vai passando você vai aprendendo a deixar coisas que não são essenciais para trás. Quanto mais viajamos, mais aprendemos. Aprendemos que o que vai na mochila é o essencial. É até engraçado e espantoso de ver como nossas mochilas vão diminuindo a medida que encaramos a realidade. Para nossos espanto descobrimos que todo aquele peso que ia nas nossas costas, nos fazendo curvar e tirando extremas energias do nosso corpo eram coisas desnecessárias.
Aí é que está o vital, quanto mais leve vai nossa mochila, mais agilidade temos, mais leveza e menos cansaço. Se de alguma forma não precisássemos de nossas mochilas e nem de nada para se carregar fico imaginando que poderíamos percorrer infinitas distâncias. Quanto mais algo o prende, menor a distância que irá alcançar. Leve na mochila aquilo que dá força, aquilo que o ajudará a continuar sua rota. Esqueça enfeites, eventuais objetos que poderá precisar... esqueça tudo. Leve aquilo que faz parte de você.
Queria um dia sair apenas com a roupa do corpo e me aventurar por lugares inóspitos, nunca parando, cobrindo distâncias imensas e ininterruptas. Caso a noite chegasse, proveria o abrigo retirado da natureza ao meu redor. Assim o faria igualmente se houvesse frio e chuva. Não tem que temer as intemperes do caminho e nem planejar levar abrigo ou defesa. Tem que se adaptar ao local e retirar dali o que lhe é necessário.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O chamado da natureza


Eu quero meus pés, descalços, para sentir a grama e a terra.
Quero minhas mãos, de forma que eu posso tocar as árvores, as rochas e a água gelada dos rios.
Desejo ter olhos para poder chorar, chorar quando ver acima de mim aquelas montanhas.
Preciso de uma pele pra sentir o vento e o calor do fogo.
Necessito de uma voz, não para cantar, pois que o canto da natureza já me basta, mas para poder chamar os pássaros e lobos da floresta.
Eu também quero um coração, porque nada na terra tem graça sem um coração. Quero o coração selvagem, feito do nó do carvalho, repousando numa cavidade de gelo.
Dai-me o simples da vida para que eu possa viver. Dai-me os prazeres da adrenalina, o gotejar gelado da chuva, o frio da nevasca, o calor do sangue...
Dai-me os bosques, os pinheiros, os rios e as montanhas.
Dai-me pois eu nasci selvagem, selvagem de coração e de alma. Assim como o caribu que foge dos lobos pelas pastagens ou do urso que combate a puma enfurecida.
É de tudo isso que preciso. Preciso do espírito animalesco dentro de mim. Preciso ser selvagem! Quero beber do sangue ainda quente, quero andar sobre quatro patas, quero uivar pra lua, correr entre as árvores, quero brigar e rosnar.
Eu quero ser selvagem!

Aqui jaz um poeta morto


Por que, meu Deus, por que a poesia dentro de mim está seca?
Será que toda a tristeza do meu coração se foi ou será que minha'alma já não é mais humana? Onde estão minhas lágrimas, por onde anda minha dor? O que será de um poeta sem a sua dor?
Bate em mim uma angústia desesperada, pois que meu talento, meu único talento, já não existe mais. Um poeta vive de seus desesperos, das dores mais doídas e é daí que tira seus poemas mais belos. Um poeta chora, chora com a alma. Não tem tristeza mais desesperada que as escritas de um poeta.
Traz ela de volta pra mim, pois minhas tardes são entediantes sem que possa escrever. Nem o café, nem a chuva já me são tão prazerosos. As tardes de sexta-feira passaram a ser chatas sem uma poesia minha.
Com que, me diz, com que mais posso encantar minha donzela? Sem não são minhas palavras, como poderiam as pessoas sentir a solidão que existe dentro da minha alma?
Meu coração está árido como um deserto. Já não encontro a beleza das cores, nem os encantos das dores. Tudo agora é feliz, mas não me contento com essa felicidade, pois dela não tiro poema algum. Poemas são sobre tristeza, não sobre felicidade. Poetas são tristes, se fossem felizes viravam palhaços.
Devolve um pouco da minha tristeza, meu Deus, pois preciso dela pra escrever. Devolve meu café, minhas sextas-feiras e minhas tardes de chuva. É só isso que preciso.