segunda-feira, 27 de junho de 2011

No dorso do cavalo







Você se lembra quando o sol se punha sobre a colina?
Você se lembra quando éramos eu e você, um só, percorrendo milhas e milhas em direção ao norte? O norte selvagem.
Acampávamos em alguma clareira e dormíamos em volta do fogo. Você me acordava quando ainda era noite e víamos o sol surgir secando o orvalho da grama enquanto o aroma do café subia pelos ares. Eu conversava com você e me lembro bem quando a sua resposta era dada com o olhar. É claro que eu sabia o que queria dizer aqueles olhos.
Quando tudo estava pronto partíamos, sem rumo, sem destino, sem razão.
Não precisava laça-lo, nem ata-lo a corda alguma, você simplesmente queria ficar comigo e eu poderia dormir quando quisesse que eu sabia que me guiarias.
Me lembro bem o quanto gostávamos de ficar abaixo de um velho salgueiro, bem a tardinha, tocando a minha velha gaita. Ah, aquele som. Eu posso jurar que aquilo é o som do coração dolorido.
Eu só precisava de você, dois parceiros, trotando pelos vales montanhosos, margeando os rios, escutando os lobos selvagens na floresta uivando para a lua, correndo atrás dos corcéis selvagens...
Um homem e sua montaria.
Agora o cowboy se foi. Sou eu sem meu cavalo. Andando de trem, aquele mesmo trem que cortava o país a qual chamávamos de serpente de ferro. Ele apita pelas montanhas, entre árvores, transpondo precipícios e comendo milhas e milhas.Nunca fui dado a religiões, você sabe, mas eu de alguma forma acho que você ainda percorre os vales, entre as gramas verdejantes, como um corcel vindo da natureza. Imagino a sua crina amarela balançando ao sabor do vento, suas poderosas patas levantando a poeira e seu relincho se misturando a corrente do rio.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O doce sabor da guerra



Flâmulas dançavam ao vento. O sol descia lançando raios de ouro sobre mim. As nuvens corriam pelos céus ao sabor do vento, mas eu não estava nada bem.
Banhado de sangue dos pés a cabeça, ferido e cansado, eu pairava sozinho entre mortos num campo de batalha. Minha espada ainda pingava sangue e o que eu ouvia eram os gemidos moribundos dos feridos, ou o barulho do sangue em borbolhas que saia em profusão das gargantas, ou até mesmo o grasnar dos corvos que rodeavam a carnificina em busca de alimento.
A guerra. Alguns dizem ser ela um grande mal, outros se deliciam com seu sabor, outros apenas a cumprem, marchando para a morte sem pestanejar. Uns como eu, não gostam nem desgostam, somente lutam pois é isto que fazemos. Nascemos para matar. Fomos treinados para isso... e cá estou eu, depois de anos de batalha, surpreso com tamanha brutalidade.
Não há heroísmo, nem mesmo bravura ou coragem. Quando soam os tambores e os gritos dos arautos, os homens marcham, marcham para a morte na frente de batalha, mas todos tremem. Mijam e tremem.
Alguns fogem, outros dançam, poucos lutam. Os que lutam, fazem-no loucamente, girando suas espadas e suas achas de batalha, ferindo amigos e inimigos, no círculo da morte. Quando todos vão tombando, o sangue escorre pela terra, unindo-se a urina e ao suor, criando um lamaçal viscoso. Os cavalos reviram seus olhos, empinam e relincham, jogam seus cavaleiros no chão e galopam para bem longe dali.
Quando a batalha acaba, resta apenas cinzas, fumaça e um odor insuportável no ar. Poucos vivem. Se Deus for o todo misericordioso, faz chover logo sobre a terra, lavando a alma dos vivos.