Ele olhava a mulher pela janela. "Como é bela"-pensava ele.
Seus olhos assustadores fitavam a linda moça bailando. Muitos ao vê-lo ali, escondido, observando, julgariam-no um pisicopata. Porém, não sentia atração pela mulher, nem desejo algum, apenas amava vê-la bailando. Uma adoração.
Ah, ele a observava todas as noites. Ficava ali, detrás das cortinas encardidas, imerso em escuridão. Queria vê-la gigando para sempre, apenas para ele.
A forma como dançava, era tudo o que há de mais belo no mundo. Seu perfume invadindo o ar, seus cabelos num redemoinho de luzes e seus olhos, profundos e fechados, como num sono suave.
E assim era sua adoração, escondida, irrelevante. Sentia medo da reação que sua grotesca aparência iria causar. Sua forma gigantesca e bruta transmitia algo que não era.
Vivia assim, todas as noites a fitar, uma lágrima escorria no rosto. Não de tristeza, mas de adoração.
E se por uma noite não houvesse dança nem bailarina, terminava por quebrar o pouco que tinha e se castigava por não poder vê-la.
Tão louca paixão sentia aquele homem, paixão não pela mulher, mas pela forma como ela dançava. Delicada, graciosa, firme.
Todas as noites a fitar...