Na mesa de minha vida há um livro velho e surrado pelo uso. Folhas velhas e manchadas se espalham por toda a superfície com escritos de um louco. A pena repousa no tinteiro.
Há também mapas de lugares longíquos. Mapas de vales, montanhas, charnecas e rios que cruzam planícies geladas em lugares remotos. Ao lado repousa uma mochila de carga, gasta, suja e cheia de histórias para contar. A mochila de um viajante que caminha sozinho, nas aventuras dos lugares hostis, compartilhando a noite com feras famintas, vigiado por olhos que espreitam na escuridão, pelo sol da manhã que nasce nas montanhas. Um viajante que inspira o ar puro do selvagem e mantém a sua rota sempre para o norte.
Abaixo da mesa, há as botas de caminhada, sujas de lama. Na soleira a bengala de caminhada, a espera de mais uma desventura.
O viajante não para. O viajante clama por aventuras. O viajante abre a janela, contempla as montanhas e as florestas verdejantes e se sente tentado a adentrá-las e não mais voltar. A mergulhar no infinito do desconhecido, do desolado, do perigoso e do hostil. E mesmo em ambiente tão pertubador, é lá que ele se sente vivo. É lá onde ele sente que está em casa.
Dorme ao relento, sobre a pedra. Mergulha nas águas geladas do rio revolto, respira poeira dos desertos, deita-se sobre a relva das campinas com orvalho. Encolhe-se sob o gelo da nevasca e galopa junto com os corcéis selvagens.
Assim é o viajante.
" Deveríamos talvez, mesmo na mais curta caminhada, avançar com o espírito de eterna aventura, para jamais voltar- disposto a mandar de volta os nossos corações embalsamados como relíquias para nossos desolados reinos."- Henry David Thoreau