segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Papai do céu


Deus, cura-me de todo o repúdio. O repúdio que guardo dentro de mim.
Dai-me, Pai, mais humildade. Dai-me meus olhos mais tranquilos, mais meigos e mais infantis. Tira do meu rosto esse olhar preocupado, vigilante, assustado e atento. Enche o brilho dos meus olhos com aquele mesmo brilho que escorre dos meus lábios. Se cair alguma lágrima, que seja de cristal, bem chorada, bem sentida.
Faça recair sobre mim a pureza dos anjos. Não deixe, por favor, não deixe que eu caia nas mãos do menosprezo.
Construa-me com a mesma matéria que fez os meus pais e os pais deles. Abençoa-me também com o véu de sabedoria que deles vier. Dá-me a simplicidade e a grandeza dos meus avôs, a serenidade e a beleza das minhas avós, a sabedoria do meu pai e o amor da minha mãe. Meus irmãos, cuide deles e da família que eles irão construir. Guarda os que amo de sincero coração e proteja os de todo o mal.
Deus, se eu um dia fizer algum mal, deixe que o seu soberano castigo recaia somente sobre a minha cabeça e livrai os que me rodeiam.
No mais, meu amigo, não quero nada da vida. Dê-me a chuva, luz e esperança. Sempre esperança, porque tudo se vai, mas a esperança é o fogo que aquece o coração desolado e perdido. Nunca, mas nunca mesmo, deixe-me sozinho. Aqueça-me com teus braços, sua bondade e seu zelo. Faça-me sempre, e nunca por algum instante, sentir falta da sua presença.
E no fim quando for o meu momento e for hora de ir embora, quando você surgir caminhando naquela luz branca e me chamar com sua doce voz, leve-me para perto dos meus. Todos. Todos que já fizeram parte de minha vida. Quero rever cada um! Meus amigos, meus avós, meus cachorros, pais, irmãos e parentes. Quero também sentar-me ao seu lado, olhar pro seu rosto e podermos conversar, por longos e longos dias. Quero poder te abraçar, me envolver nos braços que protegem o mundo, nos braços que me envolveram quando comecei a existir e que me ampararam quando deixei minha existência.
Deus, te quero pra sempre do meu lado.
Te amo muito!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Café


Café.

Falar do café é falar da presença marcante no nosso dia a dia.

Para cada um ele tem um significado, um sabor, um motivo e adoração.

Eu amo o café. Na verdade, tem que ser apreciado. Sim, é uma arte tomar um cafezinho. Cada um tem o seu jeito, à sua maneira. Eu por exemplo aprecio uma xícara de café a tarde, acompanhado de um livro ou um filme. Tem também aqueles momentos em que eu preciso de uma injeção de ânimo, beberico meu café, feito um tônus da alma e logo me sinto o campeão do mundo, cheio de ideias e vontades.

Talvez, seja a bebida de preferência universal, feita para qualquer momento, qualquer lugar, a qualquer hora e qualquer clima. Mas convenhamos, nada melhor do que abrir a janela numa sexta-feira a tarde, sem nada a fazer, nada de obrigações, sentir uma rajada de vento e reconhecer o frio se alastrando pelas ruas, olhar para cima e ver nuvens escuras festejando um gelado dia nublado. Ou então, melhor que isso, nada melhor do que um café a tarde, na tranqüilidade da roça, fumegante naqueles copos de metal meio amassado acompanhado de um fresco queijo.

Ah o café!

O que seriam de nós os escritores, poetas e estudiosos sem um precioso bule de café? Companheiro de noites, páginas, folhas e folhas de criatividade. Deus abençoe o café!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Imagine o mundo...


Queria que as pessoas fossem mais alegres consigo mesmas. Saberiam então o quanto mais fácil fica suportar as intempéres da vida.
Queria que as manhãs fossem mais frescas, as tardes menos corridas e as noites mais animadas. Que a noite não fosse tão tenebrosa e nem o sol fosse tão quente. Poderia ventar mais, chover mais e esquentar menos.
Gostaria que todos amassem-se mais, fizessem mais pelos outros além do que pouco fazem por si mesmas.
Ah, como eu gostaria que todas as pessoas soubessem apreciar os mais simples cheiros, os mais sutis perfumes, as mais encantadoras sensações que são tão delicadas aos nossos sentidos.
Como eu queria que as pessoas soubessem como é bom acordar num final de semana, família reunida, preparar aquele café da manhã, aquele aroma do café misturado ao a luz ainda fraca do Sol que entra pela janela.
Como seria bom se todos soubessem dar valor a família, dar valor ao momento em que estamos reunidos que aqueles que fazem parte de nós.
É, seria tudo muito bom se fosse assim.
Quem sabe o que seria do mundo o dia em que os homens descobrissem que sua maior arma é a escrita e não um fuzil.
O que seria do mundo se todos prestassem mais atenção ao canto dos pássaros logo cedo, se soubessem saborear o frescor da manhã, as molezas da vida e soubessem suportar, ainda com um sorriso nos lábios as durezas da vida.
Como seria se o homem descobrisse que pode ganhar mais colaborando com seus iguais do que visando apenas seu egoísmo egocêntrico. Me diz, como seria quando descobríssemos, todos nós, que compartilhar não é diminuir o que você tem e sim aumentar o que o outro tem de menos.
Quando veremos que o mundo está uma completa bagunça e que precisa de uma faxina urgente? Eu sei, não me iludo, isso nunca vai mudar. Infelizmente nunca mesmo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Apenas o ar é vital


A medida que o tempo vai passando você vai aprendendo a deixar coisas que não são essenciais para trás. Quanto mais viajamos, mais aprendemos. Aprendemos que o que vai na mochila é o essencial. É até engraçado e espantoso de ver como nossas mochilas vão diminuindo a medida que encaramos a realidade. Para nossos espanto descobrimos que todo aquele peso que ia nas nossas costas, nos fazendo curvar e tirando extremas energias do nosso corpo eram coisas desnecessárias.
Aí é que está o vital, quanto mais leve vai nossa mochila, mais agilidade temos, mais leveza e menos cansaço. Se de alguma forma não precisássemos de nossas mochilas e nem de nada para se carregar fico imaginando que poderíamos percorrer infinitas distâncias. Quanto mais algo o prende, menor a distância que irá alcançar. Leve na mochila aquilo que dá força, aquilo que o ajudará a continuar sua rota. Esqueça enfeites, eventuais objetos que poderá precisar... esqueça tudo. Leve aquilo que faz parte de você.
Queria um dia sair apenas com a roupa do corpo e me aventurar por lugares inóspitos, nunca parando, cobrindo distâncias imensas e ininterruptas. Caso a noite chegasse, proveria o abrigo retirado da natureza ao meu redor. Assim o faria igualmente se houvesse frio e chuva. Não tem que temer as intemperes do caminho e nem planejar levar abrigo ou defesa. Tem que se adaptar ao local e retirar dali o que lhe é necessário.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O chamado da natureza


Eu quero meus pés, descalços, para sentir a grama e a terra.
Quero minhas mãos, de forma que eu posso tocar as árvores, as rochas e a água gelada dos rios.
Desejo ter olhos para poder chorar, chorar quando ver acima de mim aquelas montanhas.
Preciso de uma pele pra sentir o vento e o calor do fogo.
Necessito de uma voz, não para cantar, pois que o canto da natureza já me basta, mas para poder chamar os pássaros e lobos da floresta.
Eu também quero um coração, porque nada na terra tem graça sem um coração. Quero o coração selvagem, feito do nó do carvalho, repousando numa cavidade de gelo.
Dai-me o simples da vida para que eu possa viver. Dai-me os prazeres da adrenalina, o gotejar gelado da chuva, o frio da nevasca, o calor do sangue...
Dai-me os bosques, os pinheiros, os rios e as montanhas.
Dai-me pois eu nasci selvagem, selvagem de coração e de alma. Assim como o caribu que foge dos lobos pelas pastagens ou do urso que combate a puma enfurecida.
É de tudo isso que preciso. Preciso do espírito animalesco dentro de mim. Preciso ser selvagem! Quero beber do sangue ainda quente, quero andar sobre quatro patas, quero uivar pra lua, correr entre as árvores, quero brigar e rosnar.
Eu quero ser selvagem!

Aqui jaz um poeta morto


Por que, meu Deus, por que a poesia dentro de mim está seca?
Será que toda a tristeza do meu coração se foi ou será que minha'alma já não é mais humana? Onde estão minhas lágrimas, por onde anda minha dor? O que será de um poeta sem a sua dor?
Bate em mim uma angústia desesperada, pois que meu talento, meu único talento, já não existe mais. Um poeta vive de seus desesperos, das dores mais doídas e é daí que tira seus poemas mais belos. Um poeta chora, chora com a alma. Não tem tristeza mais desesperada que as escritas de um poeta.
Traz ela de volta pra mim, pois minhas tardes são entediantes sem que possa escrever. Nem o café, nem a chuva já me são tão prazerosos. As tardes de sexta-feira passaram a ser chatas sem uma poesia minha.
Com que, me diz, com que mais posso encantar minha donzela? Sem não são minhas palavras, como poderiam as pessoas sentir a solidão que existe dentro da minha alma?
Meu coração está árido como um deserto. Já não encontro a beleza das cores, nem os encantos das dores. Tudo agora é feliz, mas não me contento com essa felicidade, pois dela não tiro poema algum. Poemas são sobre tristeza, não sobre felicidade. Poetas são tristes, se fossem felizes viravam palhaços.
Devolve um pouco da minha tristeza, meu Deus, pois preciso dela pra escrever. Devolve meu café, minhas sextas-feiras e minhas tardes de chuva. É só isso que preciso.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Carta pra Deus


Deus, envia a chuva. Peço isso num tom de súplica, não pelo calor, nem pela secura, mas pela benção e beleza que ela representa. Envia a chuva, repito. Quero estar em casa, através dos vidros, vendo a água cair em torrentes, límpida, volumosa e estrondosa. Não quero nada mais que um café quentinho e cheiro do aroma para contemplar esse espetáculo.
Manda a chuva, eu insisto. Mas antes que a mande-a, peço tudo que tenho por direito. Sabe Deus, aquelas chuvas de verão que o Senhor manda? Então, daquelas lá. Aquelas em que começa com um ventinho gostoso e úmido, sabe, aqueles ventos com "cheirinho" de molhado. Depois o senhor pode aumentar, deixar ele bem forte até que vire uma ventania que balança as árvores, bagunça os cabelos e faz sentir frio. Ah, o mais importante, manda uma daquelas nuvens bem, bem escuras, aquelas com cara de tempestade, em que o dia vira noite. Depois de tudo isso pode começar a chover, mas faça-o lentamente, uns pingos aqui, outros ali e vai aumentando, é que é pra dar tempo pras pessoas correrem. Depois pode descarregar o aguaceiro. Não esqueça uns trovões aqui e acolá, mas não exagera nos raios, eles dão um pouco de medo e são perigosos.
Faça chover por um tempo, vai diminuindo e diminuindo até acabar. Mas não acaba por aí não! Depois da chuva, traz de sobremesa aquele cheirinho de terra molhada que a gente tanto gosta. Deixa frio do jeito que tava, assim fica bom e deixa aquele frescor úmido nas ruas pra gente poder viver feliz.
Obrigado por sua atenção.
Te amo!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Liberdade indômita


Sinto falta de muita, muita coisa. Talvez, sejam coisas triviais, mas uma coisa eu realmente sinto falta. Sinto falta de sentir o vento, sinto falta de sentir dor... sinto falta de estar vivo.
Sinto falta do medo, da chuva, das montanhas, da adrelina... ah, a adrenalina! Se tem algo nesse mundo que torna a vida em toda as suas gigantescas proporções aplicadas em seu corpo num piscar de olhos é a adrenalina. Ah muito tempo meu coração bate conformado dentro de mim, o que não sabe é que cada coração dentro de cada um de nós é um coração selvagem como o do alce ou do leão. Cada coração prima por algo primitivo que o mantém vivo, lembre-se: estar vivo não é a mesma coisa que viver. Você não precisa de tanto para viver, apenas de si e dum pouco que está lá fora, por preço algum que você não possa pagar. Venha, conheça um pouco da aventura. Largue os papéis, as leituras, os relógios e o conforto. Caia na estrada, engula um pouco de pó, sinta o frio gélido da chuva nos seus ossos, presencie o medo da noite e se aqueça numa fogueira na floresta.
Foi longa a caminhada do homem, chegamos a lugares que nunca imaginos poder chegar e vivemos num mundo que nunca fantasiamos em nossas primitivas mentes. Mas não há nada, nada como nossos prazeres primitivos que ainda mantemos dentro de nós, mas que escondemos sob um véu de falsidade. Máscaras e roupas são tudo o que nos prende. O que realmente precisamos para nós mesmos temos de graça. Dados por Deus e pela natureza.
Quando chegar a chuva e não houver mais poeira, nem calor e assim for possível caminhar, quero me lançar, no curto espaço de tempo que possuo, numa aventura, mesmo que dentre uma tarde ou longas noites de verão, quero deitar na relva e olhar as estrelas, quero ouvir os animais selvagens do norte. O norte. Sempre para o norte!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Depois de tudo...


No início, quando tudo era vazio e escuridão, o amor trouxe tudo.
O amor ergueu montanhas, planteou as árvores, vagueou os rios, criou nós animais e deu nos vida. Vida sem amor é existência, vida com amor é um presente divino.
O amor me deu tudo, minha vida, minha existência e tudo aquilo que sou capaz de amar. Eu sei que o amor está em mim. Eu sangrei, eu sorri, eu fiz tudo, tudo que eu podia pelo amor que há em mim. Nem sempre dá certo, nem sempre é o bastante, nem sempre nos preenche. Eu pequei talvez, pequei por não saber quem amar, não saber como amar...
Sinto saudades de tudo. Sinto saudades de sentir o calor do seu abraço, sinto saudade de te ver sorrir e dizer que eu te faço feliz. Sinto falta do meu coração bater fora do peito, dos meus olhos se encherem de lágrima, sinto falta da dor, sinto falta de tudo isso. Saudades de querer com todas as minhas forças sair andando pelas montanhas e florestas, sonhando com um espírito selvagem dentro de mim.
Você foi tudo para mim. Você preencheu meu vazio, me mostrou um caminho que eu não conhecia. Um caminho para dentro do meu coração e dessa forma, pela primeira vez em minha vida pude com os dedos leves tocar a minha alma.
Meus olhos aprenderam a apreciar seu brilho, a leveza do seu toque, meu coração aprendeu a bater ao mais simples sorriso. Eu aprendi a leveza de um sentimento, a serenidade de amar, a fúria de uma paixão, a dor e o sacrifício, que não menos importantes, mas mais ainda provadores do amor. Amar é isso, é deixar as pessoas irem, viverem, perdoar... Eu perdurei no meu intento, aprendi inúmeras formas de provar o amor, mas ainda não aprendi a pedir desculpas. Não aprendi ainda a olhar para dentro, não aprendi ainda a ser corajoso.
Se choras, é por culpa minha, mas não pelo que faço, é pelo que deixo de fazer. É por não possuir coragem e sim medo, medo de te ver sumindo no horizonte, medo de nunca mais ter você aqui pra mim, olhando por mim, pensando em mim. Eu sei que é egoísmo da minha parte, mas não seria amor se não fosse egoísmo.

Talvez eu tenha aprendido um pouco mais do que é amar. Amar é fazer bem, é fazer feliz, permitindo que seja livre. Eu tenho consciência disso, mas ainda assim meu medo prevalece. Se eu não deixo que vá é por medo. Há sim amor em mim, há sim consciência de que e melhor que vá, mas o medo me consome, medo da sua ausência, das minhas noites em silêncio, da falta da sua companhia, medo do meu lugar no seu coração ser substituído, medo de nos momentos mais tristes não ter uma das pessoas que mais amo.

Eu sou uma melodia triste, uma melodia de inverno, fria e vazia. A minha paz está nas solitárias florestas, entre as árvores, sob o céu, sob as nuvens, dançando na neve. Desculpa se fui tão frio, desculpa se não tive calor na alma, se não tive coragem no coração. Me desculpa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vida



Pensando bem, todos nós buscamos um sentido para a vida. Ou melhor, para viver. Cada dia, melhor dizendo, escolhemos regras de contuda pela qual guiamos nossas vidas e o modo como agimos. Tudo depende do seu momento, do seu espírito, da forma como você reflete a si mesmo no mundo.



Tem uns, por escolha própria, em raras excessões, decidem ver o lado bom das pessoas. Fecham os olhos para os erros e constam que ajudar é preciso, não impotando coisa alguma. Há aqueles que nascem cruéis, sempre alheios aos outros e há aqueles que se revoltam vez ou outra com a vida e com as pessoas.



Vamos admitir que todos somos aqueles que veem os dois lados de uma moeda. Ora, guiados pelo nosso próprio coração e com as condutas morais estabelecidas, fazemos o bem. Ora vivemos nossos momentos rebeldes, egoístas e cruéis.



Quer saber? A vida não é um jogo com suas regras e objetivos. Digo mais: não existe certo nem errado nessa vida. Eu só digo uma coisa com toda a minha certeza "A vida é feito um espelho, tudo que se faz aqui reflete lá.".



Pare de achar sentindo na vida, pare de buscar filosofia a se seguir. Siga a sua, sua filosofia informal, sua regra de conduta, porque mesmo que ela não seja aceita pelos padrões e leis sociais, são o que você acha certo, é o que te guia e te coloca no rumo. Faça o que te faz melhor, encontre o que quer fazer, dane-se o mundo, dane-se as pessoas, porque quando tudo acabar você vai olhar para trás e ver apenas o que fez para si mesmo. Não importa o que seja, se foi se mexer ou permanecer sentando. Se foi dançar ou dormir, se foi trabalhar ou curtir a vida, vai ser apenas aquilo que lhe fez bem. Apenas isso e nada mais.









"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela."- Charles Chaplin

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rocky "dream" mountains




Quando seu sonho é barrado.Quando aqueles brilhos nos seus olhos se apagam e o calafrio no seu estômago se aquece, dá vontade de chorar. É ruim se decepcionar, pior ainda quando você se empenha naquilo. Eu sei que eu devo crescer com as barreiras e não me lamentar, mas é difícil segurar as pontas quando você já imaginava cada detalhe de tudo aquilo num futuro bem próximo. Quando você alimentava esperanças e desejos, também planos. Acho que pra piorar, o sonho já estava tão ao alcance de minhas mãos, mesmo ainda tão longe, que já imaginava os rostos que conheceria, os lugares por onde eu pisaria, como seria meus dias. É difícil, é muito difícil.
Hoje talvez eu fui decepcionado, como nunca fui na vida, pois que nunca tive um desejo tão grande e tão forte como esse. Mas essa é a vida. Existem e existirão situações bem piores. Espero que eu esteja preparado para tudo isso.





“Pois que vi meu próprio castelo de sonhos romper-se e decair sob a rebentação. Mil ventos uivantes podem derrubar um sonho, mas nem um milhão irão desintegrar a base sob o qual se assenta.”- Luigi Rajão

segunda-feira, 27 de junho de 2011

No dorso do cavalo







Você se lembra quando o sol se punha sobre a colina?
Você se lembra quando éramos eu e você, um só, percorrendo milhas e milhas em direção ao norte? O norte selvagem.
Acampávamos em alguma clareira e dormíamos em volta do fogo. Você me acordava quando ainda era noite e víamos o sol surgir secando o orvalho da grama enquanto o aroma do café subia pelos ares. Eu conversava com você e me lembro bem quando a sua resposta era dada com o olhar. É claro que eu sabia o que queria dizer aqueles olhos.
Quando tudo estava pronto partíamos, sem rumo, sem destino, sem razão.
Não precisava laça-lo, nem ata-lo a corda alguma, você simplesmente queria ficar comigo e eu poderia dormir quando quisesse que eu sabia que me guiarias.
Me lembro bem o quanto gostávamos de ficar abaixo de um velho salgueiro, bem a tardinha, tocando a minha velha gaita. Ah, aquele som. Eu posso jurar que aquilo é o som do coração dolorido.
Eu só precisava de você, dois parceiros, trotando pelos vales montanhosos, margeando os rios, escutando os lobos selvagens na floresta uivando para a lua, correndo atrás dos corcéis selvagens...
Um homem e sua montaria.
Agora o cowboy se foi. Sou eu sem meu cavalo. Andando de trem, aquele mesmo trem que cortava o país a qual chamávamos de serpente de ferro. Ele apita pelas montanhas, entre árvores, transpondo precipícios e comendo milhas e milhas.Nunca fui dado a religiões, você sabe, mas eu de alguma forma acho que você ainda percorre os vales, entre as gramas verdejantes, como um corcel vindo da natureza. Imagino a sua crina amarela balançando ao sabor do vento, suas poderosas patas levantando a poeira e seu relincho se misturando a corrente do rio.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O doce sabor da guerra



Flâmulas dançavam ao vento. O sol descia lançando raios de ouro sobre mim. As nuvens corriam pelos céus ao sabor do vento, mas eu não estava nada bem.
Banhado de sangue dos pés a cabeça, ferido e cansado, eu pairava sozinho entre mortos num campo de batalha. Minha espada ainda pingava sangue e o que eu ouvia eram os gemidos moribundos dos feridos, ou o barulho do sangue em borbolhas que saia em profusão das gargantas, ou até mesmo o grasnar dos corvos que rodeavam a carnificina em busca de alimento.
A guerra. Alguns dizem ser ela um grande mal, outros se deliciam com seu sabor, outros apenas a cumprem, marchando para a morte sem pestanejar. Uns como eu, não gostam nem desgostam, somente lutam pois é isto que fazemos. Nascemos para matar. Fomos treinados para isso... e cá estou eu, depois de anos de batalha, surpreso com tamanha brutalidade.
Não há heroísmo, nem mesmo bravura ou coragem. Quando soam os tambores e os gritos dos arautos, os homens marcham, marcham para a morte na frente de batalha, mas todos tremem. Mijam e tremem.
Alguns fogem, outros dançam, poucos lutam. Os que lutam, fazem-no loucamente, girando suas espadas e suas achas de batalha, ferindo amigos e inimigos, no círculo da morte. Quando todos vão tombando, o sangue escorre pela terra, unindo-se a urina e ao suor, criando um lamaçal viscoso. Os cavalos reviram seus olhos, empinam e relincham, jogam seus cavaleiros no chão e galopam para bem longe dali.
Quando a batalha acaba, resta apenas cinzas, fumaça e um odor insuportável no ar. Poucos vivem. Se Deus for o todo misericordioso, faz chover logo sobre a terra, lavando a alma dos vivos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O selvagem garoto bom



A ele um homem em repleta solidão, com seu café e sua mente voltada aos livros e filmes.

A ele um homem de talento sublime, no qual veio a se expressar e nos honrar com sua suave e rude poesia.

Aos seus textos que nos faz refletir, viajar e deliciar.

A ele, o nosso tão amado menino homem que conseguiu passar por cima de todos os seus medos,

e mostrar o quanto é capaz de acalmar almas com suas palavras de sabedoria.

Ao tão compreendido e incompreendido rapaz de coração puro e nobre. Capaz de fazer com que todos se encantem.

A ele, o verdadeiro príncipe que conquistou o coração da tão nobre plebéia.

A ele, a quem devo os momentos mais felizes da minha vida.

A ele, o autor deste blog. Luigi Rajão. O homem no qual me orgulho.

O meu exemplo, a minha inspiração.

Amo-te !

Viviane A. Carvalho

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Convocação


Reservo-me na minha legítima e alta soberania convocar-vos súditos, infantes e homens de força. Incurtidos de coragem, lealdade e boa fé, eu os chamo para pegar em em armas e honrar a nossa pátria. Pois que assim, no cumprimento de seu dever, apresentem-se diante à flâmula com seus escudos e armas de batalha.
Quem atenta à nossa ordem vigente são aqueles os bárbaros, que contestam o poder divino a mim concebido e, nessa afronta, não mais querem do que apenas questionar o Nosso Pai e Soberano da terra, Aquele acima de tudo e todos e de poder inalienável, Pois que não devemos fugir da nossa lei de meros devotos. Alcemos assim a flâmula de nossa igreja e lutemos contra esses hereges e praticantes da barbárie. Diabos sem lei, selvagens errantes.
Unir-vos as tuas forças e a força d'outros amigos, cavalguemos antes do inverno e tomemos tudo daqueles paridos pelo pecado e pobres coitados perante o Nosso Senhor.
Dotado do poder que me foi concedido e regido pela honra, subjulga-los-ei pelo não cumprimento do dever, pois aquele que não atender ao chamado de seu soberano e Rei, terá a sua terra salgada, seus animais tomados e sofrerá pena de lei e desonra pública. Aquele que atenta perante a convocação de seu senhor não é mais do que um desordeiro e inimigo do reino, assim como sua família e seus bens.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Rainha dos condenados


Te darei o benefício da dúvida, pois que nenhuma jura de amor deve proceder a um pedido de desculpas. Por tanto tempo eu te amei. Ficam as marcas das feridas que cicatrizaram no ferro quente, cicatrizes que marcam agora a rigidez de um coração duro, gelado e seco.
Assim como o dia que nasceu e morreu frio, faço dele o meu coração que, de tamanha tristeza e sangria se fechou. Tal a sua rigidez que por infortúnio do acaso pode-se a qualquer momento quebrar em mil fragmentos, como o pão em migalhas e derramar o sangue pelo chão como o vinho quente pela mesa.
Onde guardar aquela saudade penetrante que envenena os nossos corações? Como se livrar dos grilhões que prendem-nos a nossa tortura mental e que por crueldade suprema relembram-nos todas as melancolias de uma música?
Ah, a Tristeza, donzela tão pertubante e presente que, por sua gélida e incessante presença torna-me cativo de tua agonia e de tua pertubante coroa. Sonhos estraçalhados, lágrimas de cristal, coração de gelo e olhar perdido. A Tristeza é a donzela que visita-nos dia após dia, preparando-nos para a tua irmã mais chegada, aquela que caminha junto com as sombras e em nossos tenebrosos sonhos: a Morte.

domingo, 17 de abril de 2011

A queda do anjo


Pois que ele rasteja pela terra silenciosamente entre as sombras, de olhos negros e boca escarnada. Seu manto preto é tão negro quanto a noite, da qual nada se vê e seus olhos são em chamas como as labaredas das entranhas da terra. Sua face é como todas as faces e sua voz é como todas as vozes, doce e altiva. Ele vagueia pelas ruas entre todos, pois que todos não podem reconhecê-lo em sua forma humana e nem podem pressentir sua chegada.
Ele se arrasta pelas profundezas, onde é seu reino, bramando e atemorizando almas perdidas que foram confinadas ao seu reino de fogo. Pois que seus passos são reconhecidos pelo tilintar de seus grilhões e correntes que estalam de suas mãos, é também aterrador ouvir o farfalhar de suas asas que sacolejam o ar, ascendendo a criatura nos ares. Em seu império, andas com aquilo que és, sendo assim a sua face monstruosa revelada. Seus olhos são sombras e sua boca possui mil dentes de modo a tragar suas almas desesperadas. Seu corpo é feito de ossos e carne de seus prisioneiros e o estalar de seu chicote são os trovões que ressoam nos céus.
Atentai, não pelo caminho que andas, mas por aquilo que vês. Mesmo aquilo que vês não seja nada, porém, o virulento anda pela terra das sombras e adentra primeiro a sua mente antes de transpor ao teu caminho. Agarra-te com aquilo que mais te convém, pois o pestilento não teme a nada, apenas a poderosa mão do Nossos Senhor.
A cruz o afasta, mas não perante a cruz e sim a fé de quem a carrega, mesmo que aquele seja fraco de força, mas corajoso de fé, o demônio teme ao sangue de Nosso Pai, pois em tempos confusos fora confinado pelo Pai ao reino do fogo, subjugado e exilado dos céus.
Não adentrai em seu domínio, pois as garras afiadas do demônio hão de traga-lo ao caminho obscuro e ninguém que não for Nosso Senhor haverá de salvá-lo. Mil anos de tormento irá sofrer, por mil anos ouvirás o chicote do senhor do escuro brandir em teu lombo arrancando-lhe a carne e o sangue, que é o seu soldo pela estadia no inferno. Por mil anos pedirás ao Pai pelo perdão e dentro de mil anos escutarás clarins rebombarem ao longe, a luz virá dos céus e anjos enviados descerão ao teu martír para levá-lo ao teu descanso.
O demônio, sob as espadas dos ceús quebrarás os teus grilhões controversso, quando se for irá bramar e mais forte vai estalar o chicote naqueles que ali permaneceram.

"Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" Pedro 5:8

terça-feira, 29 de março de 2011

Espírito Selvagem


Pois que sinto mais ardente em mim ganhar distância disso tudo. Tentado, agora mais do que nunca, a buscar desventuras selvagens que aquecem meu coração, eu entro na cavidade fria da natureza e me banho com o gélido perigo de viver. É com certo fulgor que escancaro novamente meus desejos e paixões já a muito esquecidos. É preciso buscar sempre no horizonte mais longíquo, nos mares mais tempestuosos, nas montanhas mais perigosas e nas florestas mais sombrias aquilo que chamamos de espírito selvagem. Eu não sei de fato o que ocorre comigo, mas sei apenas que meu ser clama pelo espírito das árvores, pelo espírito dos animais que ali residem, pela titânica paisagem natural que ainda nos resta. A chama ardente dos aventureiros nunca se apaga às intempéries ou se esfriam pelas nevascas que assolam os rochedos. Pelo contrário, quando o perigo bate a porta, o aventureiro se lança com toda sua força pela vida. Os aventureiros tem sede de aventura e perigo.
Hei de encontrar no pó da estrada, nas rochas fincadas ao solo e nos lagos de outras terras a minha alma perdida. A alma que desperta na tenebrosa escuridão da noite, reluzindo nos olhos dos anmais selvagens, interpretada na fúria do urso e no uivo do lobo.
Regendo tudo isso elevam-se aos céus os tambores tribais, nativos dessa terra marcados e ornamentados por seus companheiros de selva. É em volta de sua fogueira que celebram seus ancestrais, evocando a magia profunda da escuridão noturna e clamam pelos shamans místicos que residem na natureza selvagem.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Alameda das sombras


De trapos eram seus materiais assim como suas roupas. Sentada numa cadeira de carvalho velho sob uma janela suja de caixilhos ela tecia suas bonecas de pano, seu único passatempo e tudo o que ainda a mantinha lúcida.
As crianças da cidade perpetuavam a sua lenda de maligna aos sussurros pelos becos escuros. Todos tinham medo de se aproximar da velha casa na alameda escura. Nunca a viam, as vezes um relance na janela manchada, mas ela sempre se mantinha oculta na sua moradia antiga e cavernosa. O desafio da meninada sempre foi adentrar a alameda, entrar pelo velho portão de ferro e ouví-la cantarolar. Para o sincero julgamento das crianças era um canto bonito, que atraia. Um murmúrio carinhoso que acalmava as almas infantis e punha-as para dormir com doce encanto.
Certa vez, um garoto disse ter adentrado pela porta e subido as escadas de madeira rangenta. Disse ele que ela estava num quarto empoeirado de assoalho gasto e cantarolava sobre uma cadeira de balanços. Na mão ela tecia uma bonequinha de pano, manobrando com destreza as agulhas de tricô. Como uma pobre criança ele não soube explicar, mas ela vestia roupas antigas, muito antigas, de camponesa. Seu rosto estava virado para a janela, entertido com a boneca. Na parede haviam inúmeras prateleiras com bonecas das mais variadas formas, todas cravadas de alfinetes e desmembradas. Na hora, sentiu um vento gélido arrepiar-lhe a nuca e sentiu vontade de sair dali, porém seus pés não se moviam. O cantarolar da velha ficou mais alto e carinhoso, ela se levantou e se virou para ele lentamente. O garoto sentiu medo e tentou escapulir, mas não podia se mover. Então ele fitou-a nos olhos, mas não haviam olhos, nem nariz, nem orelhas, apenas uma boca horrenda que se escancarava com dentes amarelados e cheios de limo. De dentro dessa boca saiu um grito estridente e nenhuma voz ou canção qualquer, apenas o grito. Ela deslizou até ele ainda gritando com as mãos a frente em formas de garras. O garoto tentou esquivar e ginchou feito um porco, mas então ela o arrematou e depois foi apenas escuridão.

terça-feira, 22 de março de 2011

Saudades


Eu sinto falta daquele vento uivante que açoita as janelas fazendo-as balançar. Quando eu ia dormir rindo e antes de pegar no sono, eu contemplava a lua, murmurando alguma balada italiana.
Sinto falta do meu passado, do que eu era e o que eu fazia.
Sinto falta das montanhas, das estrelas e do pó da estrada de chão.
Sinto falta do meu cão fiel.
Sinto falta da sonolência, de escrever e ler.
Sinto saudades de chorar, de ser intenso, de viver e correr.
Sinto saudades de você que está lendo, do amor que vai morrendo e do beijo que estou perdendo.
Sinto falta de ser corajoso, um homem valoroso e de um café mais saboroso.
...
Sinto falta do amor que Vivi...
...esse sim eu sinto falta!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Hamlet


Trecho de Hamlet, quando ele declama um trecho teatral da queda de Tróia.


Hamlet: "O hirsuto Pirro, cujas armas negras,
Fúnebres como seu intento, semelhavam a noite,
Ali dentro, agachado no fatal cavalo,
Tinha pintado de cores sinistras
Sua já, por sinistra, renomada heráldica.
Da cabeça aos pés está todo vermelho,
Horrendamente tinto pelo sangue de pais, mães, filhas
e filhos.
Cozido e retostado pelas ruas em chamas
Que iluminavam, com luz diabólica,
Os seus vis assassinos. Assado em ódio e fogo,
A estatura ampliada pelo sangue coagulado,
Esse Pirro infernal de olhos de rubi
Caçava o velho Príamo."

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tempo


Se vocês querem saber do que tenho mais medo, eu lhes digo: o tempo.
Somos prisioneiros do tempo. A cada batida do ponteiro do segundo é menor a chance de você ser feliz, é menor a oportunidade de você conviver com seus avós, é menor a sua vida e é mais próximo o dia da sua morte.
O tempo é traiçoeiro. Ele não é justo, não é piedoso e muitas vezes ele pode ser ardiloso com você. Ele nunca vai voltar atrás por você, ele nunca vai se estender e nem se encurtar por causa das suas felicidades ou por suas dores. Ele simplesmente corre, independente de tudo, ele corre no seu ritmo milenar.
Sinto que quando deito e ouço o velho relógio de corda do meu avô soando pela madrugada contando nossos segundos, cada batida finca meu coração com uma desesperança bem esclarecedora. Então, além dos seus tic-tics ensurdecedores, a cada quinze minutos ele badala uma música que sempre te lembra que o tempo nunca para de correr.
O tempo é cruel. Você passa a vida a imaginar sua vida no futuro, seu emprego, seu possível casamento, seus filhos se assim preferir, suas viagens e suas felicidades, mas ninguém imagina que o tempo não para nos seus sonhos. Ele te coloca umas rugas na cara, destrói com seus joelhos e te dá uma boa dose de reumatismo. Miopia, que vem para todos. Remédios e consultas freqüentes no médico. Agora você encara as horas e vê que seus sonhos já foram, alcançados ou não, e que as horas nunca pararam para você.
Ah o tempo, ninguém o inventou. Ele sempre existiu, nós é que aplicamos o tempo às coisas.