Milhões de cristais choveram sobre meu corpo. Os céus estavam em chamas e eu via as pessoas correndo desesperadas pelas ruas.
Então esse era o fim? O fim de tudo o que nos cerca, o fim de nós mesmos.
Naquele instante nada pude fazer e nada quis fazer. Refleti sobre mim mesmo e tudo o que alguma vez já havia feito. Todos os erros e acertos encharcaram meu cérebro como ondas ininterruptas de um mar bravio. Senti mais uma vez o vento açoitar minha pele frágil carregado com o cheiro da grama e das árvores. Seu assobio percorreu meus ouvidos como o uivo de mil lobos.
Senti mais uma vez as lágrimas escorrendo por meu rosto, senti novamente meu coração se encher do fogo abrasivo da paixão, senti saudades.
Novamente voltei ao mundo real. Cometas flamejantes cortavam o céu a centenas de milhas por hora, era maravilhoso, um espetáculo digno de aplausos, porém era o fim de tudo. Nos primeiros momentos, chovia pequenos ciscos de cristal sobre as cidades, como uma nevasca mágica e as pessoas se maravilhavam com tudo aquilo. Depois veio o sopro dos anjos, onde todas as nuvens desapareceram dos céus e o Sol cuspiu suas labaredas sobre a terra.
Abri meus braços perante o infinito e entreguei meu corpo as chamas, não era possível correr nem se esconder. A última coisa que vi talvez fossem anjos, talvez apenas pessoas, vindo em minha direção, seus corpos se fragmentando em milhões de fagulhas diante de mim e o som estrondoso do céu explodindo.
Depois do último bater de meu coração tudo o que restou foi escuridão.