segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A arte de caminhar


Na mesa de minha vida há um livro velho e surrado pelo uso. Folhas velhas e manchadas se espalham por toda a superfície com escritos de um louco. A pena repousa no tinteiro.

Há também mapas de lugares longíquos. Mapas de vales, montanhas, charnecas e rios que cruzam planícies geladas em lugares remotos. Ao lado repousa uma mochila de carga, gasta, suja e cheia de histórias para contar. A mochila de um viajante que caminha sozinho, nas aventuras dos lugares hostis, compartilhando a noite com feras famintas, vigiado por olhos que espreitam na escuridão, pelo sol da manhã que nasce nas montanhas. Um viajante que inspira o ar puro do selvagem e mantém a sua rota sempre para o norte.

Abaixo da mesa, há as botas de caminhada, sujas de lama. Na soleira a bengala de caminhada, a espera de mais uma desventura.

O viajante não para. O viajante clama por aventuras. O viajante abre a janela, contempla as montanhas e as florestas verdejantes e se sente tentado a adentrá-las e não mais voltar. A mergulhar no infinito do desconhecido, do desolado, do perigoso e do hostil. E mesmo em ambiente tão pertubador, é lá que ele se sente vivo. É lá onde ele sente que está em casa.

Dorme ao relento, sobre a pedra. Mergulha nas águas geladas do rio revolto, respira poeira dos desertos, deita-se sobre a relva das campinas com orvalho. Encolhe-se sob o gelo da nevasca e galopa junto com os corcéis selvagens.

Assim é o viajante.


" Deveríamos talvez, mesmo na mais curta caminhada, avançar com o espírito de eterna aventura, para jamais voltar- disposto a mandar de volta os nossos corações embalsamados como relíquias para nossos desolados reinos."- Henry David Thoreau

2 comentários:

  1. Teus textos são sempre belíssimos!

    Me pergunto, apenas...
    ...se um viajante não teme a solidão?

    100destinatario

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  2. Engraçado você consegue nos fazer viajar em suas estórias, pensamentos e aventuras. Me reporto vendo as paisagens, os lugares, os sentimentos...
    Hoje eu vejo como os livros que você leu em sua infância foram marcantes para você. Harry portter e tantos outros. Lembro-me do cuidado e do carinho que você sempre teve com seus livros, eram para você uma jóia preciosa e valiosa. Hoje entendo a sua admiração por aquelas leituras.E maravilhoso esse seu jeito de escrever e aliás você escreve super bem.
    Infelizmente naquela epóca eu não tive a percepção de ver que ao meu lado estava crescendo um lindo e grande escritor. Te adoro
    meu sempre gostoso docinho de coco. beijos.Jgsrmacaé

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