Morreu. Esta é a sua empreitada por entre terras longíquas, por entre lugares assombrosos e fantásticos.
Por razões das quais eu não tomo conhecimento suicidou-lhe o corpo e a alma. Seus pertences carnais e espirituais foram tirados por si mesmo. Talvez por uma tristeza infinita, uma angústia de viver, um abandono, lágrimas que secaram sozinhas... não importa.
No momento em que fechou os olhos para essa vida, logo abriam-se outros. Sentiu o baque sobre as pernas, não sentiu dor. Abriu os olhos e se encontrou então em selva tenebrosa. Tudo era pedra, madeira morta, ferro, aço e lama. Nada era vivo. Nada que ali pisasse ou chorasse era vida. Almas suplicantes em vida agora suplicantes em morte.
Sentiu uma angústia rasgando-lhe o coração. Vacilou no passo e tombou na terra obscura. Viu próximo dali almas que rastejavam, homens e mulheres, jovens e velhos. Todos que não aprenderam a viver. Todos que infligiram ódio e medo. Ali eles repousavam.
Era o inferno. Não havia grilhões os prendendo a terra, nem fogo infinito queimando as pedras, nem chicote, nem um senhor do escuro. Havia apenas antivida. Ali, no inferno, todos os seus medos em vida sucumbiam seu coração. Todas as suas angústia corrompiam a sua alma. Um sofrimento inimaginável. Um sofrimento na alma, na mente, no coração. Era tempo para refletir.
Depois de um longo período de lamúria e dor, desciam dos céus anjos celestiais que irrompiam pelas nuvens negras. Desciam cheios de pesar por ver ali pessoas sofrendo. Quando tocavam o solo erradiavam luz e vida. As pessoas se aproximavam, mas nem todos poderiam ir ainda. Buscavam então a alma regenerada e tomavam-lhe nos braços. Uma farfalhada de suas asas gigantescas lhe tiravam do chão e lá iam eles com a alma renascida. Levavam-na para os céus, entre nuvens metálicas.
A alma então via, através das nuvens, o sol irradiando sua luz de bronze. Clarins soavam pelos céus junto com o farfalhar das imensas asas angelicais. Era a sua hora de descansar.
Era a sua hora.