sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sonhos de primavera


As coisas vêm e me atordoam como socos interruptíveis. Nunca param.


Quando eu caio, me levanto. Quando torno a cair, por ali fico. Daí me levanto novamente e fagulhas transpassam meu corpo como cacos de vidro quebrados em mil fragmentos.


Crio um escudo para isso e para aquilo, mesmo assim coisas novas vêm. Vêm de todos os lugares, tomando conta do espaço, da visão, dos sentindos. Só me resta me entregar aos meus ínfimos costusmes e gostos. Me entrego aos tragos de café, as leituras incassáveis, as esperas pelas tardes de chuva. Só me resta isso...

Fico caído na chuva, no solo rachado sob meus pés. Não quero levantar, quero ficar ali sentindo as gotas de água me atingirem, destruindo meu corpo como línguas de fogo frio. Eu vejo através de olhos atordoados que a vida me passa com horas rápidas, vejo a juventude se despedindo de meu corpo. Me tiraram o calor da vida sem pedir permissão. Tiraram-me o que não se deve tirar de alguém que se ama. Se é que se ama.

Espero, espero, espero... espero pelo dragão de luz e ouro pousando sobre meus ombros, arrebatando com suas asas a água e a lama que me cobrem o peito. Com suas poderosas patas me levando através dos céus de bronze, num pôr do sol infinito. Sinto que ele ultrapassa as montanhas e agora sobrevoa comigo sobre um lago gelado. Sinto sob minhas mãos o espelho de vidro passar velozmente, sinto o frescor do ar que precede a chuva. Sinto que o sol sorri para mim, sorri timidamente entre as nuvens, encolhido no horizonte. Ele me promete te tirar da minha mente, promete-me que vai expulsar meus demônios e meus medos.

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