quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vida rouba vidas



Um suicida sempre deixa como seu último ato, um escrito. É a forma mais triste de se transmitir a alguém o que sente. O suicida faz isso.


Os suicidas estão sozinhos, sofrendo solitários, desamparados. É na morte em que encontram o último modo para que todos se sintam obrigados a olhar para eles, que prestem atenção no seu sofrimento, que sintam ao menos alguma dor de não tê-lo por ali. A grande maioria dos suicidas não se matam para acabar com a dor e sim, bem no fundo, para que possam gritar: "Ei eu estou aqui, ainda penso em você, mas você já não pensa em mim e tudo isso tem acabado comigo!"


Como li num trecho de um livro de Machado de Assis, algo mais ou menos assim: "Há um ato comum entre os suicidas, que é o hábito de deixar algo escrito...".


Existe algo sádico nos que praticam tal ato, se tornam tão melancólicos a ponto de virarem maus. Sentem uma certa alegria em poder ver o futuro. Ver todos que um dia lhe deram as costas chorarem sobre seu caixão. Quer impôr todo seu sofrimento interno nas pessoas, fazê-las sentir um pouco de sua dor.


Reprimido, calado, incompreendido, excluído, apagado. O suicida sente que na morte, de algum modo, pode introduzir um pouco de sua dor em outros e nas suas trêmulas cartas encharcar o coração dos sofridos com um pouco mais de angústia e sofrimento. Não lhe basta sua própria dor incontida, há a necessidade de dissipá-la no coração de todos. Mesmo no coração dos seus amados.


Não se termina uma carta suicida com "Vivam bem, felicidades, sejam felizes".


Termina-se com "Em algum lugar estarei vivendo... Estarei bem... Parei de sofrer... Amo vocês."






Eu, particularmente, não deixaria carta. Talvez deixasse. Mas não permitiria que meu corpo fosse encontrado por alguém que amo. Morreria como uma ave: isolado, sozinho. Encontrariam minha carta algum tempo depois, nalgum lugar. Triste, melancólica, desesperada.

Um comentário:

  1. O suicídio é um ato de coragem. Tenho muita admiração pelo suicidas. haha
    Adorei o texto.
    Tô até pensando em deixar uma carta escrita, guardada aqui...

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