quarta-feira, 30 de junho de 2010

O filho amado a casa torna...


QUE FIQUE CLARO: A história a seguir não é de minha autoria. Apenas vou reescrevê-la com minhas palavras. O nome do autor da ideia me é desconhecido, então todas as congratulações sejam referidas para o mesmo.



Oklahoma, 1945.

Toca o telefone na residência dos Rockwood. Uma senhora deixa as panelas no fogo e corre para atender.

- Residência dos Rockwood- anuncia ela.

- Alô? Mãe?- surgi a voz de um jovem.

- Oliver?- ela solta uma exclamação- oh meu Deus, George, venha! Nosso Oliver está no telefone! Ah meu Deus, Oliver, como você está? Está bem? Quando vai voltar?

- Hey mãe, calma!

- Ai meu filho, eu rezei tanto para essa guerra acabar. Tem certeza de que está bem?

- Mãe, calma, eu estou bem! Eu vou voltar em breve. Já fiz meu trabalho por aqui, o coronel Sr. Hanks me dispensou.

- Ai que bom- suspirou ela- seu pai está aqui ao meu lado sorrindo e dizendo que te ama. Que sente saudades. Nós te amamos meu filho.

- Eu também mamãe, amo muito vocês- disse ele- hum, mãe, posso pedir algo a vocês?

- Diga meu filho.

- Bom, eu tenho um amigo de infantaria que se feriu na batalha. Pisou numa mina. Perdeu a mão e a perna esquerda. Ele morava com a tia no Colorado, mas ela morreu durante a guerra, então ele ficou sem lugar para onde ir até que o advogado resolva tudo. Será que ele não pode passar um tempo conosco?

O telefone fica mudo por uns instantes. Logo vem a voz da mãe, séria.

- Olha meu filho, sentimos muito pelo seu amigo. Porém, não será possível que ele venha para cá, não poderemos acolhê-lo, necessitará de cuidados especiais e atrapalhará os planos para o nosso futuro.

- Tudo bem, mamãe.



Dez dias depois chega a residência dos Rockwood, na carroceria de um gipe militar, um caixão de madeira recoberto com uma bandeira dos Estados Unidos da América. O cabo entrega nas mãos da Sra. Rockwood uma certidão de óbito alegando ser ali seu filho e dá suas condolências. Naqueles documentos, constata-se morte por suicídio evidente. Faltavam-lhe exatamente a mão e perna esquerda, perdidos num campo minado.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Gatos são como pessoas...


Não subi dois lances de escada quando da porta ouvi a velha grasnar.

- Berta! Senhorita Berta!

Me virei sem paciência para a porta do 103.

- Sim Dona Gabirosca?

Ela me olhou com aqueles olhos de velha. Olhos cansados de fumo.

- Voltarinho me desacatou- ponto.

- Como Voltarinho te desacatou? Ele é apenas...

- Não importa, ele me desacatou. Faz rudez de todas as minhas ternurinhas.

Olhei-a incrédula.

- Tudo bem Dona Gabirosca, vou repreende-lo.- garanti.

- É bom que o faço. Pois bem, pode ir- concedeu.

Mulher intratável! Virei-me como quem não quer nada mais na vida e subia a escada. Abri a porta de meu apartamento e lá estava Voltarinho, deitado no tapete como se a vida houvesse passado por ali e não lhe oferecera alegoria nenhuma de prazer. Seus olhos azuis me fitaram por um instante, me analisando, sondando algo novo em mim.
Coloquei as sacolas e a bolsa sobre a bancada. Voltarinho se levantou e veio ter com minhas pernas.

- Sai já, seu miseravelzinho.

Ele me olhou ofendido e sem dizer nada, voltou rebolante para o tapete. Caiu como quem cai em guerra, pernas estendidas, corpo alongado. Sem honra nem glória.

Tornei-me a virar, ajoelhei-me diante de seu corpinho e afaguei-lhe as orelhas. Seu corpanzil tremeu ao meu toque, ele olhou para minha mão satisfeito.

Num salto, pulou para o meu colo e ronronou a minha orelha.

Voltarinho miou para mim, como quem diz "ela mereceu".

- Seu danadinho, que história é essa de não ser covalente com agrados? Dona Gabirosca lhe ofereceu um naco de queijo, foi?

Ele me olhou incrédulo, pulou de meu colo, caiu no tapete e voltou a roncar.

Justamente por isso, Voltarinho era meu gato preferido!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Poema da arrogância


O que me é pouco

aos pobres é muito

mesmo os ricos

benfazejos e promíscuos

alimentam-se com escória.


Perdeu-se na história

o gosto pelo mais fino

o que é esdruxulo

no presente,

torna-se no futuro um luxo.


Meus poemas são assim

sem padrão

nem perdão

São beleza aos teus olhos

É fácil escrever

belas palavras

Não é fácil escrever

belos poemas

Mortais escrevem

com a pena

Poeta escrevem

com a alma.

Paixões


O que eu poderia dizer do que sinto às sextas-feiras?

É ótima a sensação de chegar em casa num dia frio e nublado, numa tarde deliciosa de inverno.

Talvez você não entenda a simples e extraordinária felicidade de tomar uma caneca de café quentinho e poder se sentir a vontade, seja onde for, para ler um livro. Um ótimo livro.

Lá fora o silêncio é natural, como se só houvesse você no mundo. Nada assustador, apenas natural. Sem carros e nem música barata. Ouve-se a lírica música dos pássaros que cantam sobre as frondosas árvores do meu bairro. Um bairro tranquilo de ruas escuras sob a sombra dos arvoredos.

Talvez você me tome como um senhorio, pois bem sei de todas as minhas vontades. Na verdade, melhor eu seria um fidalgo. Cartola na cabeça, mão na bengala, terno de fina costura, monóculo, luvas de couro e bigode recurvo. Rosto sisudo, de olhar oblíquo e avaliador. Queixo largo e face talhada.

Declaro-vos as minhas paixões: o café, as sextas-feiras e os livros.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

No meu mundo...


Por favor, não tirem de mim os meus sonhos. Deixe-me conhecer por mim mesmo os perigos e males do mundo. Deixe-me ir percorrer os mares e as montanhas. Eu preciso disso para ser feliz.

Quem sabe quando eu estiver bem longe, num lugar esquecido, numa cidadezinha fria e montanhosa eu lhe mande um cartão de lembrança. Não que eu tenha os esquecido, só que eu apenas vou viver a vida que quero do modo que quero.

Se bem quer saber, não me importo com esse sonhos que todos tentam alcançar. Meus sonhos e meus desejos são mais profundos, mais complexos e inatingíveis. A busca pelo conhecimento profundo e expansivo. Entender de tudo um pouco.

Já me é tudo sem graça, como se eu estivesse através de um vidro vendo a vida girar ali fora. As pessoas aos meus olhos são bestas ignorantes que correm pelas ruas a babar e escandalear asneiras espalhafatosas. No estado em que estou, tornei-me um crítico arrogante.

As roupas alheias me são ridículas, as atitudes das pessoas me mostram no que essa população asquerosa se tornou e me corrói saber que sentimentos impuros uns alimentam pelos outros.

Adeus, vou viver na minha terra mágica e fantasiosa, que mesmo que se passe dentro da minha cabeça, tudo será como eu quero. As pessoas serão verdadeiras umas com as outras. Nesta terra a mentira não perdurará. A cultura vai reinar entre as pessoas e as melodias virão do céus. Cada um poderá pensar por si só, sem ter que rastejar pelas ruas como acéfalos. Líderes serão Líderes. Assim mesmo, com letra maiúscula e com seu real significado: liderar a opinião da maioria sem ferir a democracia.

Porém, isso se passa só aqui, dentro de mim. Quem sabe algum dia eu encontre mais pessoas que queiram compartilhar comigo esse mundo fantástico e extraordinário!


Luigi Rajão

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pôr do sol


Eu não sei explicar, mas eu vi uma parte do meu dia como num filme.

O sol alaranjado do fim de tarde incindia sobre meu rosto. Eu me sentia bem, me sentia a vontade, belo e simpático.

Ela também estava linda. Tudo se passava como num filme ou num clipe. Eu via através dos cabelos dela o sol que ia se pondo. Os skatistas davam piruetas mal sucedidas nas rampas da praça.

Sim, parecia um daqueles filmes românticos de dois adolescentes num fim de tarde numa praça. Mas havia um porém, não era namoro, era uma despedida de namoro.

Não houve choros, houve risos. Não houve medo, houve coragem. Não houve pessimismo, houve sonhos.

Eu então sorri, sorri como só agora eu me permitia sorrir, livre de uma angústia, de uma tristeza. Me senti feliz por nós, por me sentir aliviado, por meu coração parar de pingar.

Conversamos sobre coisas que até então eram indiscutíveis entre nós.

Hoje eu estou extremamente feliz por ter vivido o que Vivi e ainda mais feliz que ainda te tenho aqui perto de mim.

Eu te amo, te adoro ou como queira chamar esse sentimento forte.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ele está em vós


Existem vários motivos para Deus não existir. O homem diante de tanta crueldade e tanta maldade, não é culpado por não acreditar.

Mas eu prefiro acreditar.

Eu prefiro acreditar que nos momentos mais difíceis, mais obscuros, mais sozinhos, vai ter alguém do meu lado. Independente do que eu fizer, como eu estiver ou onde eu estiver, eu quero acreditar que tem alguém ali do meu lado olhando por mim.

Saber que quando todos forem embora, quando todos virarem as costas para minha vida e eu me sentir sozinho, ele estará sentado bem ao meu lado, com um sorriso encorajador. Quando eu precisar dele desesperadamente eu vou colocar a mão no peito e vou chamá-lo com todas as minhas forças. Então ele virá, virá rápido para proteger seu filho amado.

Ele nos ama sem pedir nada de volta, sem se importar que nós não nos lembremos dele e que até esqueçamos que ele existe. Ele o ama mesmo depois de todos os seus erros. É o amor mais puro que se pode sentir, um amor que não se importa com nada, apenas ama.

Preste atenção ao seu redor. Sinta cada detalhe que passa por sua vida. Sinta o vento, o sol, o frio, a felicidade... e até a tristeza, que embora seja vista como algo ruim, tem o seu lado bom. Ele está em tudo. Ele é cada grão, cada célula, cada folha, cada molécula. Ele é o mundo e tudo o que há nele. Inclusive você.

Você é ele e ele é você.

Não me deixe só...


Esses dias me perguntei: vale a pena amar tanto pra depois sofrer da mesma forma?

Amar é como ganhar um cachorro: você o ama muito, mas quando ele se vai, você sofre arduamente e então pensa que antes não tivesse amado tanto, para que não sofresse.

Quando sofremos por amor sempre nos vem a cabeça essa ideia: "se nada disso houvesse acontecido, se eu pudesse voltar no passado e ter mudado as coisas..."

Mas a vida não é assim. A vida não é má, nem boa, ela nem sequer é justa, ela simplesmente acontece independente de quando estamos, quem somos e aonde estamos.

Se me perguntassem se eu mudaria certas coisas no meu passado, eu ficaria na dúvida. Talvez tenha valido a pena ter vivido tudo o que vivi. Talvez teria sido melhor se eu não tivesse entrado nessa.

Por um tempo o nosso coração fica pingando... pingando... pingando. Nós queremos ser vistos, sermos acariciados, sermos protegidos. Queremos palavras de conforto. Mas elas não vem, nem de quem você mais espera. A vida é assim, ela não perdoa sua fraqueza e aí sim ela bate com mais força.

Chega o momento em que você se vê mais recuperado, então, como numa brincadeira da vida, aparece algo que te decepciona mais ainda e te lança mais para o fundo. Você cai lá, num chão molhado, tudo escuro e olha para cima. A pessoa que você amou ri ao te ver ali, se vira e vai embora. Você então fecha os olhos na mais profunda tristeza e pede para fugir dali. De tudo aquilo. Até de si mesmo.

O coração se aperta então, até não poder mais. Você sente que aquilo reflete em você. As coisas perdem a cor, a música perde a melodia, o frio deixa de ser frio e o calor deixa de ser calor. As manhãs são tediantes, as tardes ainda mais e as noites são um terror.

Você reza para que o telefone toque, reza para ler uma palavra sequer de alguém dizendo que se lembra de você.

Então você pensa "a vida é uma merda.".

terça-feira, 15 de junho de 2010

A morte de Heitor


Os portões de Tróia estalaram e giraram nas dobradiças. De dentro da fortificação saiu Heitor, senhor dos cavalos, Príncipe de Tróia e general da cavalaria. Envergava uma bela armadura prateada trabalhada com pedras preciosas. O elmo era ornado com uma bela crina branca de cavalo.

Fora, postado como um touro, estava Aquiles, o maior guerreiro da Grécia. Seus olhos perfuraram Heitor com uma fúria voraz. Sua armadura prateada era divina, fundida pelas mãos de Hefesto, filho de Zeus. Fios de ouro percorriam a prata fazendo desenhos mitológicos e no peitoral o desenho representava seus dois cavalos divinos, Xanto e Bálio.

- Aquiles, antes que entremos em combate, quero que saiba que pensei ser você no calor da batalha. Seu primo lutava e se portava como você. Dei-lhe uma morte digna.

- Não me importa. A sua morte não será digna. Hoje, sobre esse pó e sob este céu, sua família e toda a Tróia o verá tombar sobre minha espada. Sem honra, sem glória. Vou mandá-lo para o mundo de Hades. Vagarás entre os mortos sem olhos e sem língua. Não haverá clemência na sua morte. Vou arrastá-lo por toda a planície até o meu acampamento e lá, darei modo no teu corpo deixando que cada soldado lhe espete com a lança e se vinguem da morte que infligiu entre tantos dos meus.

- Aquiles, peço-te apenas que entregue o meu corpo a minha família de modo que possam arranjar-me um funeral digno.

- Não, se é isso que lhe aflige medo, isso é o que lhe farei. Enquanto bebermos e jogarmos em honra de Pátroclo, teu corpo será dado aos cães e aos corvos!

Dizendo isso, Aquiles, como num raio, imprimiu a lança contra o corpo de Heitor, visando-lhe o peito. Heitor, num reflexo fantástico, levantou o escudo. A lança atingiu a defesa e se estilhaçou em mil fragmentos. Heitor sentiu o impacto do projétil e seu braço reclamou de dor.

Agora foi Heitor que arremessou a lança contra Aquiles. Imprimiu no braço livre toda sua força e rogou a Apolo que ela encontrasse seu fim no coração do guerreiro inimigo. Mas Aquiles com um rápido movimento da espada desviou o projétil, que foi cair longe dali, espetada no chão.

Aquiles então correu de encontro a Heitor, sem escudo. Heitor prostou os pés no chão para receber o ataque, levantou o escudo acima da cabeça bem na hora que Aquiles vinha a toda com sua espada.

Quem via do alto da muralha, sabia que aquele embate jamais seria visto. Dois dos maiores heróis da época se confrontando como tigre e leão. Andrômaca, mulher de Heitor chorava copiosamente com seu filho, o pequeno Aleto no colo. Príamo e sua mulher, pais de Heitor, junto com seus outro filhos, assistiam aquilo com aflição.

Passaram-se horas até que Heitor começasse a vacilar. Seu vigor já não era o mesmo, suava muito e já não mais atacava, apenas defendia as envestidas de Aquiles. De outro modo, Aquiles investia como um leão, sua fúria era amedrontadora. Rodeava o inimigo como um lobo sedento de sangue.

Quis então o destino que Heitor encontrasse um infeliz fim. Enquanto recuava, tropeçou numa pedra ali no chão, seus braço vacilou e seu escudo soltou-se de sua mão. Tentou ainda se defender com a espada. Tarde demais, Aquiles vinha a toda. Heitor sentiu a lâmina fria entrando-lhe pelo coração e na mesma hora sentiu um frio percorrer a espinha. O véu negro da morte começou a cair diante de seus olhos e o mundo foi se apagando. Não viu relances de sua vida e nem o rosto de ninguém amava. Cuspiu sangue e tombou no pó da planície, sob a vista de todos que assistiam. Caminharia agora entre os mortos, na margem do rio Styx, morada do Deus Hades.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O caminho lá de casa


No caminho lá de casa, há folhas secas ao chão. As frondosas e sombrias árvores ladeiam a estradinha. A estrada termina numa porteira vermelha muito velha. Abra-a e entre. Suba a colina de grama verdejante. Minha casa fica lá no topo.


Está vendo esse belo chalé de madeira? Está é minha casa. Aliás, este de jeans, suéter vermelho e botas de caminhada com duas canecas de chocolate quente sou eu.


Estes dois cães da raça Golden Retriever são meus, o macho vermelho é o Trevor e a fêmea amarela é a Lucy. Trate-os bem, são meus filhos. Eles e os outros que perambulam por aí.


Entre na minha casa. Aqui dentro está aquecido.


Como pode ver, aqui dentro não é muito grande, mas é belo. Veja aqui todos os meus livros preferidos. E ali, bem ali em cima da lareira, são objetos indígenas que trouxe de uma incursão minha pelas aldeias da região. Há ali no canto minha escrivaninha, "portal dos sonhos" como chamo o lugar onde escrevo meus livros. Estas fotos são das montanhas que já percorri, este são cães e cavalos meus que já morreram. Veja só! Este era um lobo cinza que percorria as redondezas daqui em busca de comida, acredita que ele comia na minha mão?


Bom, quero que conheça um lugar especial. Venha.


Andamos e chegamos então a um estábulo distante da casa, eu abro a porta e entramos pelo corredor. Logo meus cavalos percebem a nossa presença e começam a patear o chão. Eu abro a janela de cada baia e afago cada um. Com um sorriso no olhar e um brilho nos olhos. Chamo por cada um, para que ouçam a minha voz. Apolo, Treva, Cronos, Arold e Merle.


São todos belos cavalos.


Venha visitante, guardei o mais impressionante agora para o final. Voltemos ao meu chalé.


Quando chegamos de volta a casa, levo-o para os fundos. Atrás dessa porta há uma grande varanda onde tomo café todas as manhãs, leio balançando na rede ou simplesmente contemplo a paisagem...

Veja. Não é de tirar o fôlego?

Veja estas imensas montanhas que fazem sombra sobre esse lindo e grande lago. Veja quão belo são os altos pinheiros que recobrem o sopé desses belos montes. Pode sentir esse vento fresco?

Eu sou o homem com o mais belo quintal do mundo!

Nas frescas manhãs de sábado levo os cães para nadar, tacar pedrinhas na água ou simplesmente caminhar entre as árvores. Vez ou outra eu vejo um urso tentando pegar um peixe bem ali naquela margem. A noite, a lua aparece bem ali entre as montanhas, é um espetáculo que apenas eu presencio. Deus reservou esta sorte a apenas um homem: a mim.

Não há nada melhor do que preparar uma caneca de chocolate quente, sentar-me aqui nesta varanda, um bom livro no colo e ficar aqui sentado em silêncio, o vento batendo. Um silêncio musical.

Deus reservou esta sorte apenas a mim.

Esse é o meu lugar



Eu posso ver tudo como num filme agora. Eu me vejo girando sobre folhas secas, sentado à sombra de grandes pinheiros, lendo livros na encosta de belas montanhas, sentindo o vento enquanto jogo pedrinhas num lago. Eu não preciso de ninguém. Não quero conversar, não quero dar satisfação a ninguém, não quero ter deveres para com ninguém além de mim. Basta-me os meus livros, minhas árvores, meus bichos, minha lua, minha noite, minhas montanhas.
Eu descobri que posso viver dentro de mim da forma mais feliz que desejo. Eu vejo e sinto tudo o que quero.
Eu não sei se você pode ver ou se pode sentir. Consegue ouvir esse leve barulho do vento passando pelas árvores? Consegue sentir a paz que silencia aqui entre as montanhas? Consegue se surpreender com as águas desse lago gélido que está preso aqui entre esses montes?
Eu não sou infeliz, pelo contrário, sou extremamente feliz. Eu sorrio quando vejo os animais virem mansamente se unir a mim pela manhã. Todos ficam em harmonia. Vem o cervo, vem o pássaro, vem o castor, vem a raposa, o lobo, o caribu e também o urso. Todos vem me saudar pela manhã. Me olham carinhosamente, encostam seu focinho na minha mão para que eu os acaricie. Esse é o meu lugar.
Esse é o meu lugar!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dê asas a sua imaginação


Sabe-se que o fulgor dos teus olhos fazem de mim um ser vazio. Encarno o poeta e torno-me um domável bichano.

Dizem que me perdi neste caminho. As areias levaram com o tempo meus deveres, minhas ideias e eu mesmo.

Subiria as titânicas oros que se erguem acima de nossos olhos, atravessando as nuvens com seus picos salpicados de neve.

Voaria a barlavento, rodando os mares de águas revoltosas. Contornaria essa esfera sobre a qual pisamos e chamamos de morada.

Minha loucura não tem limites dentro do papel e sinto-me confortável por não poderes me decifrar.

Agora eu posso sorrir, sinto-me apto a dar gargalhadas. Rir de você, da sua ilusão, do mundo e das pessoas que nele transitam. Pouco me importa se agora o futuro é incerto, o que será de nós ou o que será de mim. Eu vivo aqui, dentro de minha mente eu sou o senhor de tudo. Sou rei, déspota, guerreiro, ancião, filósofo e até eu mesmo se assim me permitir.

Sinto prazer em construir textos e palavras. Elas me vem a mente e as saboreio como um apetitoso e suculento naco de carne. As palavras me enchem de luz e êxtase e me jogam num salto infinito para qualquer lugar do mundo. Percorro deserto, montanhas, mares e oceanos. Me sinto um aventureiro por entre as linhas.

Um pouco de loucura pra vocês...




As vezes me vem, não sei de onde, surge não sei por quê um ódio de todos que passam. Olhos distraídos e desenganados. Quero moer-lhe os ossos. Quero ouví-los gritando com horror nos olhos.
Existe em mim uma fera adormecida que por vezes a vida torna. Quero impôr o medo, o terror e a dor. Vou lhe rasgar a carne da face. Beber-lhe o sangue e vê-lo queimando. Ah, vou sentar-me em minha poltrona de couro, ouvir uma bela sinfonia e quero sentir a saborosa fragância da sua carne em chamas.
Por que esses olhos de espanto? Dentro de cada um de nós existe um assassino, existe o prazer do sangue, o prazer de desossar um corpo e excitação ao ouvir os gritos de terror e dor. Sublime é segurar com as mãos um coração ainda pulsante e beber o sangue quente que verte das veias.
A minha vingança é divina, limpa, cirurgica. Não vivo nem trabalho na podridão. Mesmo quando torturo e mato, faço tudo com requinte, primazia, concissão e elegância.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Capítulo 1- Partida


Ela se levantou com sonolência. Olhou ao redor e sorriu. Tudo o que havia acontecido lhe passou num flash muito rápido. Ele chegando, eles conversando no sofá, rindo, cantando, a noite de amor. Ela olhou para o lado e não o viu lá.
"Ele sempre vai embora sem me chamar, já o conheço.". Mas isso não importava, o que importava era a ótima noite que havia passado com seu namorado. O namoro vinha abalado a um certo tempo, mas foi como se naquela incrível noite, nada estivesse acontecendo. Eles se apaixonaram novamente, tudo foi lindo e real.
Ela sorriu novamente. Se levantou, ajeitou a casa e a bagunça feita na noite interior. Roupas pelo chão, pratos e taças sujos. Ela arrumava a cama bagunçada, ainda com o cheiro dos dois impregnado nos lençois, quando ergueu um dos travesseiros.
Havia um envelope pardo debaixo do travesseiro dele. Dentro, haviam algumas folhas xerocadas. Ela olhou para tudo aquilo curiosa.
Uma carta, um xerox de uma passagem e um contrato.
A passagem era de um voo para o Canadá, marcado para aquele mesmo dia, dali a algumas horas, apenas uma passagem com o nome do seu namorado. A segunda folha, era uma carta de uma universidade oferencendo uma bolsa de estudos em Vancouver. A terceira era uma carta, escrita por ele explicando tudo.
"Eu sei que quando ler isso, estarei embarcando para longe de você. Talvez seja melhor assim. Eu planejei isso desde o momento em que eu vi que nosso namoro não daria mais certo. Eu queria que fosse assim: sem dor, sem sofrimento, sem tristeza. Eu precisava de algo que me levasse para longe de você. Eu amei essa última noite ao seu lado. Eu vivi essa ilusão como se ainda fosse verdade, quero guardá-la para sempre. Eu sempre vou te amar, seja onde eu estiver. Fique bem. Seja feliz. Eu te amo."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Tormenta


A paz chegou enfim. Depois de uma nebulosa e escura tormenta, o vento fresco voltou a soprar. Levou dor, levou tristeza, levou preocupações.

As ruas estavam molhadas e o sol, como num dia de verão, veio erradiar o dia, tímido, entre as nuvens. As pessoas saiam lentamente de suas casas, pisavam no chão molhado, atravessando os galhos caídos, as telhas quebradas, os postes tombados. O vento vinha fresco, leve, úmido, como se mandado por Deus, de modo a apaziguar os dias tempestivos que atingiram aquela pequenina cidade.

As pessoas iam pouco a pouco retomando as suas vidas. Suas feições ainda eram duras, assustadas. As mães recolhiam suas crianças nos dias mais escuros, homens voltavam a suas casas com o passo rápido, olhando para o céu. Apenas alguém se divertia com tudo.

Ele era um pequeno garoto, se auto chamava O Senhor das Chuvas. Travessura de menino. Apenas ele saboreava o escuro da noite, o escuro das nuvens, o tocar do vento, o frescor da chuva.

Nos dias em que o vento começava a soprar mais forte, saía ele na penumbra do fim de tarde. Ele se sentia o senhor do mundo com tudo aquilo. Aquele vento fresco, as luzes dos postes, a rua molhada, o silêncio da ausência das pessoas. O além da escuridão, o desconhecido, a força, o poderio das tempestades sempre o atraia. Ele amava os tornados, as chuvas, os ventos, os raios...

O Senhor das Chuvas sabia era apenas aproveitar a simplicidade da vida e as coisas que a natureza nos dá todos os dias. O Senhor das Chuvas sabia colher a beleza no meio da tormenta.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu sou o anfitrião da noite

Sou o anfitrião da noite. Sente-se em minha cadeira de madeira nobre e tecido trabalhado. Sinta o calor do fogo que erradia da minha lareira. Pode ouvir música que ecoa pelo ar?
Olhe para mim. Não se assuste com meus olhos tristes, por dentro desse ser explode a felicidade de te ter aqui.
Vejo que notou minhas roupas. Sim, trajo terno de alta costura, gravata de seda e ainda conservo meu relógio de bolso feito a ouro.
Meus gestos são exatos, desse modo sou firme e preciso.
Estes livros que nos rodeia são minha verdadeira riqueza, trago-os do passado e até do futuro, vieram com os quatro ventos. Atravessaram os sete mares e foram adiquiridos por muito ouro. Livros de páginas velhas, amarelas e carcomidas. Livros que relatam heróis, bestas e fatos. Guerras e estórias. São portais encadernados, e, se sua mente for livre o bastante, podem até levá-lo nessa maravilhosa viagem de contos. Eu sou o dono de tudo isso. Não sou duque, nem Rei. Nem barão, nem senhor. Sou dono do império do saber, sou mais rico que todos, sou deus onde devo ser.

Luxo


O meu luxo

é o luxo da loucura

Luxúria

Leitura

Lira

Liberdade

O meu lixo

é o luxo dos pobres


A minha mente

é o redemoinho

de todas as mentes

O que penso

é o que falta

a todos pensar


Não sou daqui

nem daí

Sou do que há

dentro de mim

Sou isso

e um pouco daquilo

Sou tudo

também sou nada


Me agrada o norte

e também o sul

assim o leste

como o oeste

Talvez eu seja isso

um ser a vagar

sem saber o que é

apenas a pensar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Contemplação


Ele se abaixou e a beijou no rosto. Ela dormia tranquilamente, os cabelos pretos e brilhantes caídos para trás. O lençol sobre seu corpo acompanhava suas curvas suaves e delicadas. A mulher dormia de modo sereno, com as mãos sob o rosto e as pernas entrelaçadas.


Ainda era noite, ele se levantou, sentou-se a seu lado e pôs-se a acaricia-la. Algo explodiu dentro dele, uma explosão de felicidade, de sorte, de alegria. Sentiu como se uma música tocasse pelo ar. Uma música suave, angelical e entusiasmática.


Ele deixou o sorriso tomar seus lábios e a fitou com olhos brilhantes. Ficava maravilhado o modo como seus dedos percorriam aqueles macios cabelos. Ficava fascinado com aqueles cabelos, amava-os incondicionalmente. Sim, os cabelos. Deixou seus olhos percorrerem todo o rosto da mulher. Passou pelos olhos, fechados e tranquilos. Percorreu o nariz delicado e chegou a boca. Ah, a boca era linda! Parecia-lhe moldada. Só de olhar vinha-lhe a lembrança da sua maciez, do seu sabor...


Ele ficou horas a olhando.


Ele a amava muito!


quarta-feira, 2 de junho de 2010

A partida de Heitor


Os soldados no alto da muralha apontaram para um brilho que percorria velozmente a planície. Como era de costume, tocou-se o sino de alerta e os soldados acorreram a suas armas e se postaram de prontidão para um eventual combate.


O brilho veio velozmente levantando a poeira do chão. Dado um tempo, perceberam os soldados que se tratava de um guerreiro portando uma incrível e bela armadura. Grevas, escudo, espada e elmo. Toda adornada de prata e fios de ouro.


Feito por Hefesto, filho do próprio Zeus. Mãos divina que dominam o metal.


Aquiles parou diante dos imensos portões de Tróia, olhou para o alto e comtemplou a grandiosidade da fortificação. Viu lá de cima cabeças que o observavam com curiosidade.


- Heitor!- chamou com sua poderosa voz.


Silêncio.


Heitor estava no seu aposento, se preparando. Na verdade, sabia desde o momento em que matara Pátroclo, que Aquiles viria com sede de vingança buscar sua morte. Era a ordem natural das coisas.


Um soldado veio à sua porta correndo.


- Senhor, um nobre guerreiro inimigo grita seu nome aos berros do lado de fora.


Heitor ouviu em silêncio. O soldado se retirou. Checou os últimos detalhes da sua armadura. Se armou de sua espada, sua lança e seu escudo.


Saindo pelos jardins encontrou sua bela esposa carregando seu filho no colo. Ela veio ter com ele, com os olhos assutados.


- Vejo que já sai para a batalha. Hoje não é dia de batalha, onde estão os seus que lhe acompanham? Não és louco de sair sozinho por essas bandas.


Ele a fitou em silêncio. Não quis chorar, mas já sentia sua falta. Sentia falta do seu calor, do seu olhar, do choro de seu amado filho. Ele, que dormia tranquilamente, isento de dor e de guerra.


- Agora, eu vou confrontar um valoroso guerreiro. É capaz que eu não volte com vida, se assim os deuses não o quiserem. O homem que enfrento é mais versado que eu em batalha. Lutarei por ti, minha amada e por essa pequena criança que dorme junto a ti, meu filho querido. Quando ele crescer e eu não aqui estiver, ensina-lhe a devotar os deuses, ensina-lhe os valores de homem, as práticas da guerra e versa-o em artes. Torna-o o mais valoroso príncipe de Tróia.


Os olhos de Heitor encontraram o de sua esposa. Não houve beijo, nem adeus.


Ele se virou rumo aos portões e saiu de encontro a Aquiles.

Aquiles chora Pátroclo


Aquiles abaixou a cabeça e chorou sobre o corpo de Pátroclo. Seu primo havia tombado por um ledo engano. Fora a batalha disfarçado com suas armaduras, fingindo ser Aquiles e quis o destino que lá encontrasse a morte na lâmina de Heitor, príncipe de Tróia.
Ao fim da tarde, sem saber do terrível ocorrido, saira de sua tenda para se banhar quando veio um cortejo trazendo um corpo. Era seus valorosos guerreiros, os Mirmidões, tropa um dia liderada por Peleu, seu pai.
Apertou os olhos e seu coração se encheu de tristeza por ver um dos seus morto ali, naquele fúnebre e triste cortejo. Eles se aproximaram com cautela, cheios de pesar.
O corpo ali deitado foi tomando forma aos olhos de Aquiles, os detalhes foram se revelando sob a penumbra do crepúsculo. Era Pátroclo, seu querido e belo primo. Lá estavam seus cabelos de ouro que outrora balançavam com o vento cheio de vida. Seus olhos, agora estáticos, ainda matinham o verde vivaz, apenas o brilho se ausentara dali. Seu rosto agora era pálido e assustador.
Aquiles avançou desesperado, seus olhos procurando rumo. Avançou para o corpo do primo, chorando, chamando por seu nome.
- Ó Pátroclo, o que fizeram a ti? Diz-me o maldito que lhe tirou a vida, que dele tirarei língua, orelhas e olhos. Farei-o caminhar cego, surdo e mudo pelo submundo dos mortos. Depois que matá-lo, darei-o aos abutres e assim que a fome lhe for saciada, dar-lo-ei que restou aos cães, para que roam os ossos do pobre infeliz. Matarei seus filhos e esposa. Para que o alento da morte não lhe seja pouco e que sofra ao ver que na morte lhe acompanhou todos os que mais ama. Eu juro Pátroclo, vingar-te-ei de modo cruel e brutal como assim lhe fizeram.
Naquele momento correu um frio na espinha de todos os guerreiros ali perto. Aquiles, líder dos Mirmidões enfim se ergueria para lutar na batalha.

Rotina da vida


Eu pareço um idiota rindo. Na verdade eu nem sei porque fico rindo se não acho graça na maioria das coisas.

Sabe, estou ficando sem espaço nisso aqui. Não suporto essa sujeira, não suporto essa ignorância, não suporto essas besteiras espalhadas pelo mundo, não suporto mais o homem e suas idiotices.

Tudo bem, sou um revoltado, sou um bobo, sou um chato. Sou tudo isso que você está pensando e mais um pouco. Mas é que sabe quando você sente que tudo é muito diferente de você? O lugar, as pessoas, as coisas, os fatos e tudo mais. Na verdade, não quero morrer nem nada disso, mas quero que as coisas se modifiquem, tenho esperança ainda com isso.

Não quero que a vida siga sua ordem natural e normal, é tudo tão tedioso. Quem sabe uma grande aventura, um cataclisma, um caos. Fatos desse tipo fazem de nós homens seres valorosos, honrados, agradecidos. Sim, "agradecidos", temos que aprender o valor desse chão que pisamos.

Não queiram me entender, por favor. É impossível desvendarmos a mente humana considerando que não conseguimos descobrir nós mesmos.

Eu só queria viver uma aventura, um risco de vida, algo pelo que lutar. Sabe, fazer um esforço pra viver e ser feliz nessa vida inútil. Eu pelo menos fico esperando algo de emocionante acontecer, algo que me tire da rotina.

Quero dizer um porém. Não fique achando que eu odeio a rotina da vida. Eu amo a rotina da vida, a ordem natural das coisas. Eu só quero sair um pouco da rotina. Fazer algo emocionante para que eu possa contar uma história ou talvez nem contar. Não importa mesmo.

Um dia vou pegar minha mochila, me enfiar nas montanhas e por lá vou viver muitas aventuras. Quem quiser partilhar comigo essa empreitada, que venha! Eu vou voltar e vou contar muitas histórias e você ficará maravilhado, com os olhos reluzindo com tudo que vou revelar. Uma explosão de excitação vai percorrer seu corpo e você irá querer colocar o pé na estrada e partir.

Pode dizer que sou um louco.

Tchau!


"Você deve rezar para que o caminho seja longo, cheio de aventuras e experiências."-Constantine Peter Cavafy