terça-feira, 15 de junho de 2010

A morte de Heitor


Os portões de Tróia estalaram e giraram nas dobradiças. De dentro da fortificação saiu Heitor, senhor dos cavalos, Príncipe de Tróia e general da cavalaria. Envergava uma bela armadura prateada trabalhada com pedras preciosas. O elmo era ornado com uma bela crina branca de cavalo.

Fora, postado como um touro, estava Aquiles, o maior guerreiro da Grécia. Seus olhos perfuraram Heitor com uma fúria voraz. Sua armadura prateada era divina, fundida pelas mãos de Hefesto, filho de Zeus. Fios de ouro percorriam a prata fazendo desenhos mitológicos e no peitoral o desenho representava seus dois cavalos divinos, Xanto e Bálio.

- Aquiles, antes que entremos em combate, quero que saiba que pensei ser você no calor da batalha. Seu primo lutava e se portava como você. Dei-lhe uma morte digna.

- Não me importa. A sua morte não será digna. Hoje, sobre esse pó e sob este céu, sua família e toda a Tróia o verá tombar sobre minha espada. Sem honra, sem glória. Vou mandá-lo para o mundo de Hades. Vagarás entre os mortos sem olhos e sem língua. Não haverá clemência na sua morte. Vou arrastá-lo por toda a planície até o meu acampamento e lá, darei modo no teu corpo deixando que cada soldado lhe espete com a lança e se vinguem da morte que infligiu entre tantos dos meus.

- Aquiles, peço-te apenas que entregue o meu corpo a minha família de modo que possam arranjar-me um funeral digno.

- Não, se é isso que lhe aflige medo, isso é o que lhe farei. Enquanto bebermos e jogarmos em honra de Pátroclo, teu corpo será dado aos cães e aos corvos!

Dizendo isso, Aquiles, como num raio, imprimiu a lança contra o corpo de Heitor, visando-lhe o peito. Heitor, num reflexo fantástico, levantou o escudo. A lança atingiu a defesa e se estilhaçou em mil fragmentos. Heitor sentiu o impacto do projétil e seu braço reclamou de dor.

Agora foi Heitor que arremessou a lança contra Aquiles. Imprimiu no braço livre toda sua força e rogou a Apolo que ela encontrasse seu fim no coração do guerreiro inimigo. Mas Aquiles com um rápido movimento da espada desviou o projétil, que foi cair longe dali, espetada no chão.

Aquiles então correu de encontro a Heitor, sem escudo. Heitor prostou os pés no chão para receber o ataque, levantou o escudo acima da cabeça bem na hora que Aquiles vinha a toda com sua espada.

Quem via do alto da muralha, sabia que aquele embate jamais seria visto. Dois dos maiores heróis da época se confrontando como tigre e leão. Andrômaca, mulher de Heitor chorava copiosamente com seu filho, o pequeno Aleto no colo. Príamo e sua mulher, pais de Heitor, junto com seus outro filhos, assistiam aquilo com aflição.

Passaram-se horas até que Heitor começasse a vacilar. Seu vigor já não era o mesmo, suava muito e já não mais atacava, apenas defendia as envestidas de Aquiles. De outro modo, Aquiles investia como um leão, sua fúria era amedrontadora. Rodeava o inimigo como um lobo sedento de sangue.

Quis então o destino que Heitor encontrasse um infeliz fim. Enquanto recuava, tropeçou numa pedra ali no chão, seus braço vacilou e seu escudo soltou-se de sua mão. Tentou ainda se defender com a espada. Tarde demais, Aquiles vinha a toda. Heitor sentiu a lâmina fria entrando-lhe pelo coração e na mesma hora sentiu um frio percorrer a espinha. O véu negro da morte começou a cair diante de seus olhos e o mundo foi se apagando. Não viu relances de sua vida e nem o rosto de ninguém amava. Cuspiu sangue e tombou no pó da planície, sob a vista de todos que assistiam. Caminharia agora entre os mortos, na margem do rio Styx, morada do Deus Hades.

2 comentários:

  1. Adorei seu blog! O texto acima é ótimo e eu sou fascinada por mitologia Grega.

    bjs

    Mirian

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  2. Esse é um confronto bem marcante da Literatura.
    Dois personagens de personalidades muito interessantes.
    Marion Zimmer a descreveu maravilhosamente em "O Incêncio de Tróia"
    Bjs

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